Conselheira: Emília Escrivão Muchanga

Persistência e fé – a chave para o tratamento

 

As crenças ocupam um lugar importante na vida do ser humano. Em qualquer sociedade a crença em alguma coisa funciona como directriz a vida. No tratamento do HIV não é diferente…acreditar que vai dar tudo certo faz parte da aceitação. Para haver persistência tem de haver fé de que o tratamento vai dar certo.  

Emília Escrivão, conselheira da ELOS afecta na US de Hulene, distrito de Kamavota, no mês de fevereiro do ano corrente foi lhe alocado o caso índice João Boaventura (nome fictício) do bairro de Hulene A.

Através de chamada telefónica a conselheira conseguiu  o consentimento para a visita domiciliaria. Na data marcada para a visita, a conselheira dirigiu-se a residência da família e testou a parceira Maria Almeida (nome fictício), tendo o resultado dado positivo e em seguida testou também o seu filho de 9 anos e este teve o resultado negativo. Para a utente positivo, a conselheira ofereceu o aconselhamento pós teste positivo com enfoque para a importância da ligação aos cuidados e tratamento. Mas a Maria não aceitou o seu resultado.

“Minha filha isto que tenho trata-se de problemas familiares (Magia negra) e não HIV..Tenho estas feridas em quase todo meu corpo já a um ano. Primeiro sai uma borbulha, ao rebentar fica ferida.provocadas pela magia negra. Isto não é HIV. Sossega, já andei a procura de tratamento e não está fácil. Mas um dia irei acertar alguém que vai me ajudar a vencer este problema”.  As crenças sobre as tradições e o desconhecimento em relação aos sinais, sintomas e tratamento do HIV tem sido um dos maiores obstáculos no tratamento ao HIV. Esta atitude da personagem em causa representa um comportamento habitual em muitas pessoas diagnosticadas com HIV.

Depois de uma conversa de quase duas horas e sensibilização ela aceitou ir a US. Chegado fez se o devido registro, encaminhou se a APSS, e primeira consulta e em fim levantamento de medicamentos.

Passado um mês, a Maria  não apareceu a segunda consulta e a conselheira como estava atenta, fez lhe uma visita de seguimento na casa. Chegado a casa, encontrou-lhe e dentre as várias conversas que tiveram, a conselheira perguntou-lhe o porquê de nao ter ido a Us ,e ela respondeu : “o meu estado parece que está a piorar devido a toma de medicamentos”. A conselheira explicou que o medicamento não tinha efeito rápido, que ela precisa de continuar persistente na toma de medicamento e que brevemente vai gozar da melhoria da sua condição de saúde,e uma vez começado o tratamento antiretrroviral não pode abandonar. Mesmo depois dessa sensibilização, a Maria não aceitou voltar a Us.

Como o lema do MISAU ” o nosso maior valor é a vida ” pedi ao meu colega conselheiro  Bruno Matavele para me ajudar com a paciente Maria e lá fomos e chegados na casa ela nos recebeu bem e conversamos com ela,onde falamos mais uma vez, das vantagens de aderir aos cuidados e tratamento e ela aceitou ir connosco a Us ,e neste momento ela está aderir o tratamento.

Há dias, a Maria ligou feliz dizendo: “Me parece que as feridas começam a dar tréguas, depois de muito andar e a gastar dinheiro, aqui sem pagar nada, começo a sentir que as feridas estão a dar me paz. Isto está a dar certo. Obrigado por não teres desistido de mim. Agora vou continuar com mais força a ir levantar medicamento”.